26 de janeiro de 2009

Capítulo 1

Sofia desceu as escadas do metrô correndo assim que avistou Kai. Beijou-o e, ao mesmo tempo, passou a mão pela bunda dele dando uma leve apertadinha. Porra Sofia, que merda é essa? Kai ficava irado quando ela inventava alguma alternativa boba de sucumbir o seu corpo. E, Sofia se divertia rindo do amigo com um sorriso maroto e provocador. Ah! Vai me dizer que você não gostou, aposto que de fio terra você gosta! Literalmente não tinha como levar Sofia a sério...


Entraram no metrô e quando chegaram no terminal Tietê, Sofia ficou estarrecida com tamanha quantidade de gente. Nunca, em toda sua vida, tinha ido aquele lugar. Queria até desistir de ter inventado aquela merda toda, mas agora não dava mais pra voltar atrás, Kai ia ficar puto da vida se ela dissesse pra eles desistirem. Compraram as passagens, entraram no ônibus e seguiram com o que tinham combinado. Antes de sair da cidade, o motorista parou em uma rua próxima a rodoviária e um senhor de cabelos bem alvos e pele ressecada entrou no ônibus entregando um chocolate de uma marca desconhecida. Ele tinha uma voz grossa e firme e, dizia que aquela amostra era apenas uma degustação, se gostassem, os passageiros podiam comprar um pacote com dez chocolates que custava apenas uns míseros R$ 5,00. “É para vocês comerem e irem se distraindo durante a viagem”, dizia. O chocolate era ruim pra dedéu, mas ainda assim, tinha gente que comprava.


A viagem durou um pouco mais de duas horas quando chegaram em Rio Claro, uma cidade quente, mas com ares bastante interioranos. Seguiram por uma avenida que, parecia ser a principal, virando aqui a acolá até chegarem ao Horto Florestal. Sofia não sabia bem ao certo da história, mas parecia-lhe que um tal de Edmundo Navarro de Andrade, que emprestava o seu nome ao horto, morou lá, no que é hoje um casarão. Ele fez pesquisas sobre eucaliptos e foi responsável pela aquisição de várias espécies vindo da Austrália. À medida que Sofia e Kai andavam parque à dentro iam sentindo que o ar estava mais leve e, extasiados com a beleza do local decidiram caminhar bem devagarinho para curtir mais o lugar. Não demorou muito e já encontraram um grupo grande se formando. A maioria vestida de moleton e tênis, conforme pedira o tal do guru. Para Kai, aquilo tudo era uma farsa, mas não queria deixar Sofia se meter em mais uma estripulia sozinha. E, óbvio, que ela pediu pra ele com aquele jeitinho tão sedutor em que fazia biquinhos com aquela boca carnuda. E ele, mais uma vez, não teve como negar à amiga aquele pedido. Kai lembrou que virava e mexia, Sofia metia ele em encrencas. Um dia, ele ainda iria beijar aquela boca!


O tal do guru iniciou aquele encontro com uma prece que mais parecia um canto gregoriano do que qualquer outra coisa, mas, enfim, vai ver que era assim mesmo. E, depois disso, pediu a todos que vendassem os olhos e começassem a se deslocar da mata em direção à saída do horto florestal seguindo apenas a voz do guia, ou seja, ele. Porra Sofia, que merda é essa, a gente está no meio da mata e este maluco aí quer fazer treinamento pra cego? Sofia foi logo dizendo que Kai estava mal humorado e sem ao menos dar chance de reação, simplesmente vendou o amigo. Logo no começo, ainda ouvia-se algumas pessoas rindo disfarçadamente, mas depois eles só conseguiam ouvir passos: alguns em direção ao guru, outros lá sabem Deus onde. O que dava pra ouvir era muitos “ais” e “uis” e o barulho da mata se mexendo através dos seus galhos secos distribuídos pelo solo. Kai sentiu por, pelo menos, umas duas vezes que alguém passou a mão nos seus órgãos genitais, mas preferiu não alardear muito por duas razões: vergonha de escândalos e respeito pelo ritual que, apesar de achar que aquilo ali era o maior 171 da história, tinha que manter as aparências por conta de Sofia. Os dois voltaram para São Paulo e quase não se falaram, estavam cansados. Apenas riram da menina que seguiu em direção contrária a voz do guru e se embreou no meio da mata, fazendo com que todo aquele ritual planejado fosse interrompido para que pudessem ajudar a procurar a tal da garota.


Diário de Sofia


Oi diariozinho,
Kai foi comigo naquele exercício espiritual daquele guru que me indicaram. Ele é um amor de amigo, sempre atendendo aos meus pedidos. Tenho de confessar que me aproveitei da situação e, no primeiro exercício que o guru pediu para fazer, peguei em um monte de bundas e até em outros negócios também, só não me aproveitei mais da situação, pois o que peguei não era tão convidativo assim. O guru não entendeu minhas brincadeiras e me disse no final que eu precisava de terapia. Resolvi que lá, então, eu não volto mais. Prefiro ficar contigo mesmo que pelo menos você não fala e muito menos me dá conselhos. O Kai vai ficar puto, pois mais uma vez começo algo e não termino, mas isso aí, eu dou um jeito depois.
Sofia.