25 de junho de 2009

Capítulo 12

O chiclete ia e vinha na boca de Sofia numa luta incansável com a língua dela. Vez em quando uma grande bola se formava à sua frente e ela imitando uma pessoa zarolha admirava o seu feito. Sentia-se orgulhosa. Ria. Não contente estourava a bola com o seu dedo indicativo. O chicle voltava novamente para a boca e aquele passatempo se repetia até que algo mais fascinante pudesse lhe chamar a atenção. Fez bola de chiclete, cantarolou algumas velhas cantigas de ninar e pensou um pouco em sua vida. Sem perceber passou quase vinte minutos naquela brincadeira entre a goma de mascar e seus pensamentos. Só se apercebeu que o tempo voava quando Morrice abriu a porta do banheiro e, já de banho tomado, pulou na cama em cima dela tentando beijá-la insistentemente. Ela, em contrapartida, fazia cócegas nele como quem quisesse revidar o susto que tomara e em tempo aproveitava para, num ensaio divertido, brincar mais um pouco com aquele gringo que já considerava seu namorado. Ao se cansarem, os dois deitaram na cama, cada um para um lado, como quem tivesse feito um esforço físico incomum. Depois de rirem um do outro, trocaram olhares e, assim, ficaram mais alguns minutos como se a fadiga fosse uma palavra que não existisse naquele dicionário do amor. Beijaram-se e, numa expressão de mais puro carinho, não resistiram à atração um pelo outro e, então, ali mesmo, sem cerimônias, transaram. A única música que tocava neste meio tempo era o celular de Sofia que insistentemente soava sem parar. Nem Sofia e nem Morrice se abalaram com tal melodia. Horas depois de terem consumado o fato, Sofia lentamente dignou-se a levantar-se da cama e ver quem teimava em te ligar. Tinham cinco ligações, todas de Kaí. Ouviu as mensagens. Imaginou o que Kai pudesse querer com ela e disse como quem precisasse justificar algo em alto e bom som que retornaria pra ele mais tarde. Morrice não entendeu nada, mas preferiu não perguntar.

Não demorou muito para que Kai ligasse novamente para a amiga. Ela atendeu. Porra, Sofia, você não me atende e também não me retorna as ligações. Ela deu risada. Estava ocupada, Kai, não é sempre que estou disponível, mas o que tanto você quer comigo? Sem muito rodeio, Kai, lembrou a Sofia que, conforme tinham se falado no Jacaré Grill, eles ficaram de jantar de casalzinho. Lembra Sofia? Ficamos de sair juntos: eu, você, Morrice e Ketlyn. Quero muito que você a conheça. Tenho certeza de que irá gostar muito dela. Sofia lembrou-se que achara, num primeiro momento, o nome da moça esquisito. Deu uma risada sínica consigo mesma. Continuava achando ela com nome desagradável. Sofia não podia cometer a indelicadeza com o amigo, mas não tinha estimado nenhum pouco aquela idéia, muito menos sentia feição alguma pela tal da Ketlyn. Mas como amizade não escolhe intempéries, aceitou o convite. Kai já tinha feito tanto por Sofia, que se sacrificar um pouco por ele era, no mínimo, prova de respeito pelo sentimento do amigo. Vou falar com Morrice e nos encontraremos no restaurante. Kai ficou animado, há muito não fazia este tipo de programa, passou tanto tempo galinhando e pulando de galho em galho que talvez já tivesse esquecido como era o começo de um relacionamento sério.

Na entrada do restaurante alguns lampiões eram colocados como lustres, bem como sinalizavam o corredor tortuoso até que dessem numa espécie de grande jardim. Um jardim bem iluminado e com alguns objetos de arte contracenava com as mesas que o rodeava. As luzes das mesas eram bem escassas para propiciar aos clientes um clima mais romântico. As cadeiras e as mesas não se combinavam, mas formavam uma ambientação por vezes agradável. O restaurante era um misto de rústico beirando o refinamento com algumas peças decorativas aqui e acolá. Ele era conhecido pelas comidas com tempero diferenciado e cozido com produtos orgânicos. Kai, assim que viu o casal chegando, acenou para Sofia. Ela acenou de volta. Sofia tinha se produzido toda. Uma mini-saia preta de babados ornava com um top de renda super discreto. Como um toque especial, prendeu a frente dos seus cabelos, pôs um colar de pérola legitima e um salto alto a La Luis XV criado por ela. Estava linda. Morrice todo orgulhoso empunhava suas mãos nas costas de Sofia e desfilava com ela por todo o restaurante até chegarem à mesa. Sofia cumprimentou Ketlyn com um sorriso de cabo a rabo. Keka, como era chamada por Kai, extremamente simpática, beijou Sofia no rosto. Pareciam que competiam entre si para o posto de “miss simpatia”. Os casais pediram vinho, beliscaram alguns petiscos e jantaram. Morrice contava histórias hilariantes de quando ele era adolescente e passava suas férias em Nice, no sul da França. Kai sugeria algumas traquinagens dele e de Sofia no tempo de escola e confessava para o grupo, o quanto Sofia fazia-lhe passar vergonha. Ketlyn revelou que paquerava Kai desde o primeiro dia que o viu. Kai beijou Keka. Sofia mexeu-se um pouco na cadeira como quem já estava impaciente daquelas histórias e pediu licença para ir ao banheiro. Ketlyn, aproveitando a oportunidade, disse que ia acompanhá-la também. Que menina mala sem alça. Se ela bem soubesse que odeio ir ao banheiro como se fosse um par de jarros, não se escalaria desta forma, pensou Sofia. Deu risada e levantou-se. Será um prazer tê-la como companhia. Disse cinicamente. Era visível que Keka queria se aproximar de Sofia. Tentou emprestar-lhe um batom, mas foi recusado. Falou de lojas e grifes de roupas, mas Sofia parecia não estar muito a fim de prestar atenção. Voltaram à mesa. Sofia pediu para Morrice para eles irem embora, pois ela estava com dor de cabeça. Acho que foi o vinho, justificou-se. Morrice agradeceu a noite agradabilíssima que passou com todos. Ao se despedirem, Kai abraçou a amiga e perguntou se estava tudo bem com ela. Eu só estou com dor de cabeça, Kai, nada, além disso. Mentiu.