22 de setembro de 2009

Capítulo 18

Decididamente, fazer os finais de semana uma parte do cotidiano já era exigir demais de Sofia. São Paulo estava especialmente frio naquele sábado. Ela tinha ralado muito durante a semana na pesquisa para a nova coleção do seu cliente. Não queria pensar em absolutamente nada, então, pediu o carro a Pedro, colocou a coleira em Brasileiro e resolveu que naquele dia, ao contrário do que sempre fazia, iria andar no Parque Ibirapuera. Não gostava muito de lá, pois o aquela imensa área verde vivia lotada. Pessoas de tudo quanto é jeito e tribo andam pra lá e pra cá lembrando mais a hora do rush no caótico trânsito de Sampa do que outra coisa. Ela não gostava de tumulto, mas gostava de tumultuar. Apostando que com o frio as pessoas fossem ficar em suas casas, Sofia optou por ir naquele parque àquele dia. Vamos brasileiro, lá é bonito, você vai gostar!

Estacionou o carro com facilidade e a medida que andava percebia que, de fato, o Ibirapuera estava vazio. Alongou-se. Arriscou correr. Vamos, Brasileiro, pega no tranco! E o cão acompanhava-a. Foram tantos caminhos diferentes que nem Sofia sabia mais quantas voltas tinha dado por certo. Brasileiro já estava com a lingua para fora. Sofia comprou uma água, deu para o canídeo e prometeu-lhe ser a última volta antes de eles retornarem para casa. Ela ameaçou correr, mas Brasileiro empacou e ficou olhando para ela sentado. Ok, já entendi o recado. Você é muito folgado, mas eu não vou te pegar. Sofia andava e olhava para Brasileiro para ver se ele a acompanhava. No começo, o cão deitou-se no chão, mas quando ele viu que Sofia não parava de andar, resolveu seguí-la. De repente Sofia parou. Estarrecida olhava de longe um casal que andava próximo ao lago. Ele tinha seus braços envoltos no pescoço dela enquanto andavam e conversavam animadamente. Sofia prendeu a respiração. Brasileiro aproveitou e deitou-se no chão. Sofia não queria acreditar no que estava vendo, mas desejou que Brasileiro fosse naquele momento um Rottweiler e que ao seu comando dilacerasse aquela mulher. Ele: Morrice. Ela: Beatrice.

Pensa, Sofia, pensa!!! E sabendo que a melhor defesa é o ataque, Sofia impulsivamente foi de encontro aos dois. Essa mulher é uma “puta” mesmo, Sofia pensava enquanto a raiva crescia incontrolávelmente na sua mente e em seu coração. Hey! Vocês dois... por acaso atrapalho o casal de pombinhos?

Morrice, como que se reconhecesse a voz da inquisidora, virou-se calmamente tirando os braços do pescoço de Beatrice. Seu riso era amarelo, quase beirando ao branco pálido. Oi meu amor, você por aqui? Que surpresa! Beatrice apenas sorria. O mesmo sorriso cínico que irritara Sofia no apartamento do namorado. Morrice e Beatriz se entreolhavam um pouco sem graça. Surpresa estou eu de encontrá-los aqui - respondeu-lhe. Sofia sentiu que algo estava no ar: Morrice caminhando num parque que, ele bem sabia, a namorada quase não vinha; com uma mulher que, ele também sabia, Sofia detestava; e ainda por cima os dois ficaram sem graça ao vê-la. Aí tem! Morrice beijou Sofia e ela bem baixinho disse para ele: “Precisamos conversar”. Conhecendo a namorada que tinha, Morrice limitou-se a responder que “Sim, nós vamos, mas não aqui e nem agora”. Aquelas palavras de Morrice soaram para Sofia como uma confirmação de que seu pressentimento estava correto. Então decidiu prejudicá-lo de outra forma. Já que meu par chifres está prestes a aparecer, quem vai pagar caro agora é ele, pois esta vaca não merece que eu mova um dedo por causa dela. Pensou.

Sofia cumprimentou Beatrice como se nada tivesse acontecido e bem sorridente avisou ao casal que já estava indo embora quando os avistou. Nós também já estávamos indo embora – disse Bia. Os três caminharam até o portão de entrada mais próximo do estacionamento que Sofia deixara o carro. Sofia de mãos dadas com Morrice tentava segurar sua raiva como se nada tivesse acontecido. Na porta do carro, o francês beijou a namorada, enquanto Bia olhava os dois à distancia. Brasileiro entrou no carro. Morrice disse que quando saísse dali, passaria na casa de Sofia. Não, Morrice, me liga antes que eu não estou indo pra casa agora. Mentiu. De repente, de onde eu estiver, passo na sua casa. Ligou o carro e foi-se embora.