20 de janeiro de 2011

Capítulo 25

Sofia enfiava as roupas dentro da mala, sem ao menos parar para pensar. Só tinha uma coisa em mente, estava atrasada, e, pior do que isso era ter que dar a mão a palmatória e dizer que Mahya estava certa. Por quê sempre mãe tem razão? Mahya entrou no quarto de Sofia e avisou-lhe que Pedro já estava esperando ela dentro do carro. “Sofia, avião não fica esperando os clientes não. Eles podem se atrasar, mas se nós atrasamos, perdemos”. Tá bom mãe já sei disso, tô dando o meu melhor. Mahya fez uma cara de désdem... “dando o melhor”... parecia piada. Fazia uma semana que ela estava dizendo pra Sofia arrumar a mala e a filha não fez absolutamente nada.

Sofia tinha colocado pouca roupa e sapatos na mala. Mais vestidos, óbvio, como boa profissional de moda sabia que vestidos eram a peça chave de qualquer guarda-roupa feminino: ocupavam menos espaço por serem uma única peça, eram femininos e vestindo um deles estaria pronta para ir em qualquer lugar de forma apresentável. “Sofia, você só vai levar isso?”. Sofia respirou fundo e antes de mandar a mãe tomar naquele lugar, se limitou a pedir um suco de laranja. Faz esse favor pra mim, vai, Mahya, rapidinho. “Filha, Nova Iorque tá frio nesta época do ano e você só vai levar estas roupas”. Mãããããeeee!!!!!!!

Mahya saiu correndo do quarto de Sofia rapidinho para pegar o suco. Sofia só chamava ela de mãe quando já estava brava e Mahya conhecia aquele tom de voz. Quer saber, dane-se, o corpo é dela, o frio quem vai sentir é ela e a mala também foi ela quem comprou, então, dane-se.

Sofia fechou a mala, calçou o sapato, olhou-se no espelho e checou, não faltava nada, estava pronta. Aos trancos e barrancos, mas estava pronta. Encontrou Mahya no meio do corredor e bebeu o suco que a mãe lhe trazia. E foi andando para a porta de saída, olhou para os pés de Mahya e viu que a mãe estava ainda de chinelo. Mahya também olhou para os próprios pés. Você é a melhor mãe do mundo, mas não vai se atrasar, hein, avião não espera. Sofia saiu carregando a mala para o carro, enquanto Mahya corria em direção ao quarto para colocar o sapato.

Da Vila Madalena até Cumbica, o silêncio imperava no carro. Sofia não falava porque na noite anterior tinha ido pra balada e estava pra lá de cansada. Mahya, como dizia Sofia, “se travava” toda vez que alguém da familia ia viajar. E Pedro porque gostava do silêncio ao dirigir. Mas, o precioso sossego fora quebrado por Mahya ao perguntar a filha o que seriam deles sem a filha em casa. Sofia entendia cada passo de uma chantagem emocional que Mahya estava acostumada a fazer e sem pestanejar respondeu: “vocês deviam ajudar as vitimas do Rio de Janeiro, ao invés de ficarem reclamando da vida. Vocês não achavam aquele lugar lindo? Então...”.

No aeroporto deu tudo certo: eles chegaram no horário, Sofia não enfrentou muita fila, sentia-se confortável com a sua bagagem e até deu pra comer um pão de queijo com um expresso no capricho. Olhou para o ticket eletrônico e para o relógio, estava na hora de entrar. Despediu-se de Pedro e, ao abraçar Mahya, aproveitou e disse-lhe que não tinha colocado muita coisa na mala dela porque a intenção era comprar mais roupas lá, afinal, estava indo para Nova Iorque. Mahya suspirou aliviada e não quis falar nada pra não correr o risco de chorar. Pedro abraçou Mahya enquanto viam a filha entrar pelo portão da polícia federal e perdê-la de vista.