21 de agosto de 2017

O amante


O livro "O amante", de Marguerite Duras (1914-1996), é envolvente, não só em sua história, mas principalmente em sua escrita literária. Não à toa, recebeu o Prêmio Goncourt, o mais importante da literatura francesa e se consagrou como sua obra mais célebre. O livro tem alma e tece com maestria a narrativa. Considerado o mais autobiográfico da escritora, dramaturga e cineasta, a obra foi escrita em 1984. O romance narra um episódio da adolescência de Duras: sua iniciação sexual, aos quinze anos e meio, com um chinês rico de Saigon. Se as personagens e fatos são verídicos, a escrita os transfigura e transcende; não sabemos em que medida a história é verdadeira. Os encontros amorosos são, ao mesmo tempo, intensamente prazerosos e infinitamente tristes; a vida da família contrapõe amor e ódio, miséria material e riqueza afetiva. A presença da mãe, sua desgraça financeira e moral, do irmão mais velho, drogado, cruel e venal, e do irmão mais novo, frágil e oprimido, constituem uma existência predominantemente triste, e por vezes trágica, de onde Duras extrai um esplendor artístico que se reflete em sua própria pessoa - personagem enigmática, quase de ficção. Daí, conhecemos personagens que, de fato, traduzem o comportamental de toda uma sociedade. É um trabalho primoroso, sem sombras de dúvidas. Uma leitura imperdível!