26 de março de 2018

Auto da Compadecida


Mesmo em sua simplicidade, a escrita do texto teatral "Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, tem requinte e brilhantismo. Com um humor imprescindível, a obra retrata histórias populares do Nordeste com ingenuidade e encanto. A cada página é impossível o leitor não se dar prazer ao riso. Digo e afirmo: um riso arguto. A peça teve sua primeira encenação em 1956, em Recife. Nas entrelinhas, há de se falar um pouco de tudo: sobre a moral, subserviência, julgamento, discussões teológicas, materialismo, discriminação, preconceito, misérias e fraquezas. O diálogo é eminente.

Na história, a peça é narrada pelo palhaço. Chicó e João Grilo tentam convencer o padre a benzer o cachorro de sua patroa, a mulher do padeiro. Como o padre se nega a benzer e o cachorro morre, o padeiro e sua esposa exigem que o padre faça o enterro do animal. João Grilo diz ao padre que o cachorro tinha um testamento e que lhe deixara dez contos de réis e três para o sacristão, caso rezassem o enterro em latim. Quando o bispo descobre, Grilo inventa que, na verdade, seis contos iriam para a arquidiocese e apenas quatro para paróquia, para que o bispo não arrumasse problemas. A partir daí, João Grilo se aproveita das situações sempre a seu favor e Chicó se revela um covarde e mentiroso. 

A história é repleta de peripécias, como o enterro do cachorro, o instrumento capaz de ressuscitar mortos e o gato que “descome” dinheiro. Uma verdadeira sátira aos poderosos que critica a hipocrisia presente na sociedade através do tipos como o Padre, o Major, o Padeiro, etc. 

Uma leitura apaixonante que recomendo!